domingo, 30 de dezembro de 2007

Em torno do Imperador, surge no País uma elite cultural e artística

As conveniências da cultura, das artes e das letras nos governos monárquicos, e o abastardamento do gosto atribuído aos regimes puramente democráticos, constituem um argumento em favor das monarquias e em desabono das repúblicas. Todos os reis conhecem isto. Sabe-se que em toda a parte e em todo o tempo os períodos mais brilhantes do desenvolvimento das letras condisseram com o maior esplendor dos tronos.133
A democracia não é literária, porque é a igualdade; e a inteligência, que ela pretende nivelar, é indispensavelmente aristocrática. Nada mais aristocrático do que o grande poeta da democracia, Victor Hugo. A literatura ou a arte democrática não existem. Sendo manifestações do que há de melhor e de superior na inteligência humana, são forçosamente aristocráticas. As ciências, as letras e as artes jamais florescerão nos estados sociais onde impera a democracia.75
Assis Chateaubriand comentou a respeito de D. Pedro II: “Mau grado o lamentável espetáculo de incapacidade da vida pública do Brasil, ele criou um ambiente de ordem política, que era, em larga parte, uma transposição e uma projeção da sua personalidade vigorosa. A obra mais interessante do Imperador consistiu na formação das elites no Brasil. Elites políticas, elites literárias, elites artísticas, ele se preocupava da criação de todas elas, e com uma sabedoria doce, insinuante e sagaz”.20
Aos 29 anos, acabara por criar no Brasil um verdadeiro mecenato, que atinge todos os ramos da atividade literária, artística e científica. Macedo, Alencar, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Varnhagen, entre outros, se encarregam de elevar o nível intelectual do País, estimulados pela atenção que o Soberano dedicava às coisas literárias. Pintores, músicos e escritores encontram apoio e auxílio que chegam por intermédio de viagens de estudos, de encomendas de obras, enfim, por todas as formas de que o Imperador podia dispor. Lendo todos os jornais da Capital e das províncias, tendo à sua disposição funcionários que assinalavam os artigos que podiam interessá-lo, não somente os que se referiam à política, mas também às artes e às letras, o Imperador deseja ter dinheiro apenas para fundar escolas, para a compra de livros, de objetos de arte, de quadros, ou para financiar aqueles que ele julgava dignos de apoio.91
O Imperador reunia freqüentes vezes, em sessões literárias e científicas, os homens de letras e os sábios brasileiros, para com eles examinar alguma nova produção ou discursar sobre literatura, ciências e artes. Eram as conferências conhecidas como 'palestras imperiais'.26,98
Na corte de Pedro II, Victor Hugo e Lamartine é que pareciam reinar. Seus livros, lidos e discutidos pela elite na língua original, haviam sido traduzidos e divulgados amplamente.
Uma certa douceur de vivre, na expressão de Talleyrand, parece estender-se sobre a sociedade brasileira, marcada pela personalidade do Imperador, cada vez mais integrado aos assuntos intelectuais. De hábitos simples, inimigo da ostentação, utiliza ainda a velha carruagem que pertenceu ao avô, D. João VI, para seus passeios habituais. Rodeia-se de gente erudita, sem distinção de cor ou de fortuna. Auxilia os artistas em suas realizações. Estimula, com dinheiro, os estudos de Pedro Américo, Gonçalves Dias e Carlos Gomes, na Europa.91
Ferdinand Wolf avaliou o interesse do Imperador pelas artes: “D. Pedro não se contenta em amar e proteger as ciências e as artes, de reunir em sua Corte sábios e artistas, de os favorecer. Não faz das ciências, das letras e das artes um pedestal de sua ambição. Ele as ama por elas mesmas, e conhece muitos dos seus ramos ele próprio”.91 Foi, talvez, o único que teve essa elevada e desinteressada preocupação pelas artes, letras e ciências.75

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Imperador garante e respeita a liberdade política

No Brasil, sob o regime mo­nárquico, havia muito mais liber­dade e muito maior tolerância política do que hoje, sob a forma republicana de governo. Éramos, na realidade, uma democracia. As eleições, tanto quanto o per­mitiam as nossas condições, eram revestidas de seriedade. Todos os partidos políticos fa­ziam-se representar no Parla­mento e revezavam-se constan­temente no poder.

D. Pedro II propôs uma refor­ma eleitoral, que ampliava o direi­to de voto, mas ela acabou enca­lhando na resistência insuperável das facções políticas. Só vinte anos mais tarde a eleição direta, primeira linha daquele programa, seria triunfante iniciativa do parti­do liberal. Tanto insistiu D. Pedro em que os ministros não divulgas­sem o seu nome associado à ideia da reforma, que estes aca­baram por só lhe atribuir o que perturbava a inteligente atividade do Governo, ocultando a inspiração superior e confidencial que os orientava.

Respondendo a Saraiva, o Im­perador afirmou:
- O senhor sabe, melhor que ninguém, que eu nunca fui embaraço à vontade da Nação, expressamente manifestada.
- Sei que o patriotismo de Vossa Majestade é tal que atende somente ao interesse da Nação, sem consultar a qualquer outra consideração.
- Agradeço a todos que pen­sam assim, porque me fazem jus­tiça.



Joaquim Nabuco escreveu:
Trata-se de um homem cuja voz, durante cinquenta anos, foi sempre, em Conselho de Ministros, a expressão da tolerância, da imparcialidade, do bem públi­co, contra as exigências implacá­veis e as necessidades às vezes imorais da política. Se chefes de partido disseram que com ele não se podia ser ministro duas vezes, foi porque ele os impediu de es­magar o adversário prostrado.


Durante algum tempo houve no Rio de Janeiro desordens provocadas por políticos, que se utilizavam de marginais e capoei­ras. Um dos grandes empresários da desordem organizada era o politiqueiro Duque Estrada. Com ambições de chefe eleitor, ar­rebanhou depois da guerra do Paraguai maltas de desordeiros, colocando-os a serviço de suas ambições. Conseguiu notáveis resultados, pelo terror que infun­dia.
Mas a certa altura os adversá­rios resolveram empregar contra ele o mesmo recurso. A poder de rasteiras, cocadas, rabos-de-ar­raia e navalhadas, derrotaram-no fragorosamente. Indignado, Du­que Estrada foi queixar-se ao Im­perador, que se limitou a lembrar-­lhe o preceito:
- Não faças a outrem o que não queres que te façam.
E em seguida voltou-lhe as costas.

Não pertencendo a partidos, o Monarca é Imperador de todos os brasileiros

Um dos maiores serviços que o Rei presta ao povo é a garantia da sua total independência em relação aos partidos políticos, e dum modo geral em relação aos interesses particulares das pes­soas ou das associações, sejam de que tipo for: políticas, eco­nômicas, profissionais.


Em 1886, ao visitar as obras do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o Imperador mandou a carruagem seguir pelo caminho histórico. Chegando ao local, co­mentou:
- Esta é a verdadeira arqui­tetura adequada a um monumen­to desta ordem.
E perguntou ao Conselheiro Ramalho:
- Ainda vive alguém do tem­po da Independência?
- Há em Campinas um ve­lho, chamado João Cintra, que fez parte da comitiva do augusto pai de Vossa Majestade.
Dias depois, quando chegou a Campinas, foi logo indagando onde morava o velho Cintra, cuja casa era fora da cidade. E seguiu para lá, acompanhado apenas de um jornalista e do seu velho negro Rafael. Encontrou João Cintra fa­lando a meia voz, num grupo de velhos. Depois dos cumprimen­tos, perguntou:
- Que história estava aí contando? Continue, eu também quero ouvir. Quem é velho sem­pre sabe muitas histórias.
Não sabendo o que lhe have­ria de dizer, o rude velhinho per­guntou a Sua Majestade:
- Por que é que o Senhor não se muda para cá? Será por ser carioca?
- Eu não sei o que é ser carioca, paulista, gaúcho, mineiro ou pernambucano. Só sei que sou brasileiro.


No dia 10 de julho de 1888, os brasileiros residentes em Paris promoveram um banquete para comemorar a abolição da escra­vidão. Compareceram 169 perso­nalidades do mundo oficial. Os organizadores desejavam convencer o Imperador, presente então na França, a presidir o ban­quete. Coerente com a sua situa­ção de Imperador de uma maioria de abolicionistas, mas também da minoria não abolicionista, ele se recusou:
- Desejo continuar Impera­dor de todos os brasileiros, quaisquer que sejam os credos e convicções políticas.

Numa carta dirigida a D. Pedro II, Lamartine escreveu:
Todos os súditos de Vossa Majestade, que vêm do Brasil ou que daí nos escrevem, felicitam­-se de viver sob o governo de um príncipe que extinguiu no Novo Mundo, por seu caráter e suas virtudes, a eterna disputa entre as naturezas do governo republica­no ou monárquico: a liberdade das repúblicas sem a instabili­dade, e a perpetuidade das mo­narquias sem o despotismo.


Tivemos 67 anos de Monar­quia que, além de nos trazer a Independência, trouxe a este País crescimento industrial e co­mercial, estabilidade política e ideológica, liberdade total, hones­tidade, probidade com as coisas públicas e identidade pátria, além de governos livres e indepen­dentes, sistema monetário forte, estruturas institucionais fortes e morais, estrutura partidária de grande potência e uma política exterior digna.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Nosso Imperador 'yankee': A popularidade de D. Pedro II nos Estados Unidos

Leopoldo Bibiano Xavier


Raros estrangeiros, e certamente nenhum outro chefe de Estado, desfrutou nos Estados Unidos, como D. Pedro II, uma tão grande popularidade e foi acolhido ali com tão expressivas provas de respeito, e mesmo de amizade. Não somente nos meios oficiais, políticos, intelectuais e outros, como igualmente na massa do povo, nas camadas mais modestas.
O entusiasmo pelo Imperador era enorme. Talvez ele tenha sido o visitante estrangeiro mais popular nos Estados Unidos. Qualquer coisa que ele fizesse tinha interesse. As pessoas ficavam fascinadas pelas suas qualidades.

A American Geographical Society organizou uma reunião especial, com a presença de D. Pedro II. Na saudação, Bayard Taylor afirmou:
Nunca esteve entre nós um estrangeiro que, após três meses de permanência, pareça ao povo americano tão pouco estrangeiro e tão amigo quanto D. Pedro II.

O jornal North American afirmou:
Nenhum governante, de nenhum país, tanto como homem quanto como governante, jamais teve tantos méritos diante dos Estados Unidos quanto D. Pedro II.

O Imperador percorreu cerca de 15.000 quilômetros dentro dos Estados Unidos. Os políticos não perderam a oportunidade do exemplo para se fustigarem mutuamente, e um editor afirmou:
Quando ele voltar ao Brasil, estará conhecendo mais os Estados Unidos do que dois terços dos membros do Congresso.
Em Baltimore, assistiu à Dama das Camélias, no Teatro Opera Ford. Desde então, o camarote que ocupou passou a se chamar camarote imperial.

No dia 4 de julho ,de 1876, festa do centenário da independência americana, D. Pedro II se encontrava nos Estados Unidos, porém em caráter particular, como fazia durante as suas viagens.

Estava programado um espetáculo de gala, do qual participariam o presidente Ulysses Grant e toda a representação do mundo oficial. Ao hotel em que estava hospedado como D. Pedro de Alcântara, foi-lhe enviado um convite para assistir à solenidade no camarote do presidente americano. D. Pedro agradeceu e devolveu, dizendo que não estando ali como Imperador, não podia aceitar, mas que iria em caráter particular. E foi. Mas o mestre de cerimônias o conduziu a um camarote particular, vizinho ao do presidente. Quando D. Pedro apareceu no seu lugar, em companhia da Imperatriz, correu­-se a cortina que separava os dois camarotes, e ele se viu ao lado do presidente, no mesmo camarote.

Desfraldaram-se nesse momento, unidas, a bandeira americana e a brasileira. Logo depois a banda entoou o hino brasileiro, e uma multidão entusiástica, de pé, saudou com prolongadas palmas e vivas o nosso Imperador.

Tão grande era a admiração dos americanos pelo nosso Imperador, que nas eleições presidenciais de 1877 ele recebeu, só em Filadélfia, mais de 4.000 votos espontâneos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Nosso Imperador, promovendo o desenvolvimento material do País

Sob o ponto de vista do progresso e do desenvolvimento material do País, o Império não foi o atraso e a estagnação de que ainda hoje é acusado pelos que não se querem dar ao trabalho de estudar e conhecer melhor esse período da nossa História. Na verdade o Brasil era, de fato e de direito, a primeira nação da América Latina. Essa hegemonia, ele iria conservar até o último dia da Monarquia.

Foi das mãos de D. Pedro II que o Brasil saiu apto a enfrentar as dificuldades políticas do continente e do século: pacificado e unificado pelo Imperador, o Brasil se impôs ao respeito internacional, disseminou a instrução, consolidou a linha de suas fronteiras, estabilizou a moeda, bateu-se vitoriosamente nas guerras que lhe foram impostas, tratou de igual para igual as maiores potências, não reconheceu hegemonias no hemisfério, construiu a terceira esquadra do mundo. Apoiado em dois grandes partidos nacionais, praticou o parlamentarismo. Criou uma elite intelectual, moral, social e política, foi um fecundíssimo viveiro de valores humanos, aboliu o tráfico e a escravidão, insuflou as nossas maiores riquezas econômicas, aparelhou a indústria, construiu uma enorme rede de comunicações rodoviárias e ferroviárias, ligou-nos à Europa pelo cabo telegráfico, o telefone, a tração a vapor, impulsionou as ciências e as letras, conheceu intimamente aquilo que Cícero preconizava como a suprema ventura dos povos: o gozo tranqüilo da liberdade.


Em 1874, o irlandês Hamilton Lindsay-Bucknall veio ao Brasil, com a equipe encarregada de instalar o primeiro cabo submarino no País. Posteriormente escreveu um livro narrando a sua viagem, no qual encontramos as seguintes referências:

O navio cabográfico Hooper finalmente colocado em terra, sã e salva, a extremidade do primeiro cabo submarino no Brasil. E o bom Imperador Dom Pedra li poderia ser visto nessa ocasião, ajudando nobremente a puxar aquele cabo que em pouco tempo colocaria seu grande Império em comunicação direta com o resto do mundo civilizado. Que esplêndido exemplo nos fora dado pelo grande e sábio Dom Pedra II, Imperador do Brasil, não só se interessando pessoalmente pela instalação do cabo submarino, mas também dando uma mão para puxá-Ia para a praia!

Logo depois da amarração da extremidade do cabo submarino à terra, foram recebidas mensagens congratulatórias transmitidas ao Imperador pelos governadores do Pará, Pernambuco e Bahia. Os telegramas para o Imperador me foram confiados para entrega. Ao chegar ao palácio, fui conduzido sem cerimônia à presença de Sua Majestade Imperial. O Imperador, que estava sentado na varanda apreciando uma xícara de café, em companhia de diversos visitantes, levantou-se para receber-me e apertar-me a mão. O conteúdo dos telegramas pareceu satisfazê-Io muito e, a seu pedido, sentei-me ao lado. Fez-me então muitas perguntas sobre o cabo submarino, a respeito do qual parecia estar profundamente interessado. E não podia haver dúvida, pela natureza de suas perguntas e pelo conhecimento de eletricidade que demonstrava, de que não se tratava de um novato naquela ciência. Prontamente verifiquei o acerto dos que o diziam um dos mais inteligentes e altamente dotados dos soberanos reinantes. Permaneci em sua companhia por algum tempo, durante o qual nossa conversa convergiu para diversos tópicos. Senti-me tomado de profundo respeito por aquele sábio homem que rege os destinos de um dos mais admiráveis impérios do mundo.


Estava em andamento a construção da estrada de ferro para a subida da Serra do Mar, e discutia-se qual o sistema a ser adotado. Havia pouca experiência no assunto, e predominava a opinião dos técnicos ingleses, que eram os concessionários. Cristiano Otoni defendia a outra solução. Em reunião do Conselho de Estado, que decidiria o assunto, o Imperador determinou:
- Ouçamos antes o Sr. Otoni. E assim se evitou o erro da construção pelo sistema inglês.



Em visita à exposição de Filadélfia, em 1876, o Imperador passou pelo stand de Graham Bell, que a duras penas conseguira inventar e expor ali o protótipo do telefone. Pouca atenção atraíra o seu stand. Bertita Harding narra o encontro:
Ajustando inúmeras bobinas, eletrodos e discos de metal, Bell preparava-se para demonstrar a invenção. Por fim anunciou:
- Dei a isto o nome de telefone. Estendeu ao Imperador um objeto em forma de taça, pedindo-lhe que o conservasse pegado ao ouvido. Afastou-se depois a razoável distância, e falou para o outro objeto de forma similar, que levava nas mãos, enquanto os espectadores, de pé, observavam-no com mal dissimulada incredulidade. De repente, D. Pedro deu um pulo:
- My God! It speaks!
- Sim - respondeu pelo fio a voz de Bel! -, isto fala. Não tardará muito para que o telefone seja uma necessidade em todas as casas.
Os olhos de D. Pedro brilhavam de admiração e surpresa:
- Meus parabéns, Sr. Bell! Quando a sua invenção for posta no mercado, o Brasil será o seu primeiro freguês.


E cumpriu a palavra. Bell recebeu encomendas do Rio muito antes que o telefone fosse comercialmente explorado. Foi Dom Pedro, graças à sua incansável curiosidade científica, que pôs em relevo e valorizou a descoberta do jovem professor de Boston. O telefone ficou sendo uma das sensações da exposição, e quando ele se tornou um produto comercial, o Imperador foi dos primeiros a utilizá-Io na prática.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Imperador não transige em questão de honra: Não provocamos a guerra, não proporemos a paz

Em luta com os ministros que não queriam deixá-Io partir para o Rio Grande do Sul, no início da guerra do Paraguai, o Imperador cortou a discussão, dizendo:
- Ainda me resta um recurso Constitucional: se não parto como Imperador, abdico e vou para o Rio Grande como um voluntário da Pátria.

Declarada a guerra ao tirano Solano López, do Paraguai, seguiu o Imperador com seus genros, a incitar por seu exemplo pessoal os s us súditos ao cumprimento do dever. Ao embarcar, disse à multidão que o aplaudia:
- Sou defensor perpétuo do Brasil, e quando os meus concidadãos sacrificam sua vida em holocausto sobre as aras da Pátria, em defesa de uma causa tão santa, não serei eu que os deixe de acompanhar.

Em momento de desânimo do seu Ministério, durante a guerra do Paraguai, o presidente do Conselho de Ministros consultou D. Pedro sobre a conveniência de se chegar a um acordo com o tirano inimigo. O Imperador, sempre delicado e tranqüilo, desta vez perdeu a calma. Ergueu-se indignado, bateu com o punho cerrado na mesa dos despachos, e bradou:
- Nunca! Nós não provocamos a guerra, não proporemos a paz! Se o sacrifício é enorme, maior seria a humilhação. Agora, é irmos até o fim. Eu partirei de novo para a guerra, se se tornar necessária a minha presença lá. Trocarei o trono por uma tenda de campanha. E quero ver se há algum brasileiro que não me acompanhe!

Em seu diário, D. Pedro II anotou:
Fala-se em paz no Rio da Prata. Eu não negocio com López! É uma questão de honra, e eu não transijo!

Exigira a perseguição de Ló¬pez como se sua intenção fosse conquistar o Paraguai. Conseguida a vitória, mandava voltar os regimentos, apressava a restituição do território aos seus donos, para que a esponja do tempo apagasse a larga mancha de sangue. Era um capítulo encerrado. Nem anexações, nem compensações, nem castigos. Quitavam-se compromissos, com um saldo de idealismo. Salvara-se o prestígio das armas, mas não se agravara o direito das gentes. O Império não esmagava, retraía-se. Fizera a todo custo a guerra, o que era compreensível. Mas resistira às tentações do triunfo, o que foi exemplar.

A nossa vitória sobre os paraguaios, e o cavalheirismo com que tratamos nossos inimigos derrotados, deu-nos um grande prestígio junto aos nossos aliados na guerra, e junto a todas as repúblicas hispano-americanas.


Com relação à acusação que em certa época lhe faziam, de querer sustentar a guerra com o objetivo de ampliar o domínio territorial brasileiro, D. Pedro 11 registra em seu diário:

Protesto contra qualquer idéia de anexação de território estrangeiro.

Anos mais tarde, quando se ventilava a nossa questão de limites com a Argentina, afirmou que não transigia:
- Ou o território é nosso, e não devemos alienar uma polegada dele, ou pertence ao nosso vizinho, e então é justo não querermos uma polegada do que não nos pertence.

D. Pedro II, que vencera uma longa e árdua guerra contra o Paraguai, e não tomara ao vencido um palmo do território, não se conformava também com a anexação da Alsácia-Lorena pela Alemanha: Em 1889, revelou:

Ouvi do finado Imperador Guilherme I, que com prazer chamo sempre de compadre, que ele nunca foi partidário da anexação. Não conheci velho mais amável. O gênio bélico era Bismarck. Evitei-o. Admiro o homem, mas não o estimo.

O senso da dignidade nos atos do Imperador

D. Pedro II não poderia manter-se indiferente às reiteradas provocações do governo uruguaio, que consentia que a nossa bandeira servisse de tapete na porta de entrada dos salões do clube presidido por Leandro Gomez. Mandou Saraiva para Montevidéu, em missão especial, a fim de alcançar uma solução honrosa. O almirante Tamandaré só foo autorizado a usar de represálias depois que fracassaram as tratativas diplomáticas.

Quando foi aprisionado pelo tenente-coronel Oliveira Bello, Leandro Gomez pediu para ser entregue aos seus correligionários e o seu desejo foi cavalheirescamente satisfeito. Entretanto, logo que as tropas brasileiras deixaram Paissandu, os seus próprios patrícios exigiram o seu fuzilamento, como reparação à chacina de Quinteros, da qual ele fora o principal instigador. Ao saber daquele ato de covardia, D. Pedro II o condenou formalmente, e exigiu a punição do coronel Goyo Suarez, que se havia comprometido a assegurar a vida do nosso insolente inimigo.

Logo após a vitória sobre o Paraguai, houve manifestações populares e revolta de militares no Rio, visando depor o Ministério constituído por Muritiba. Alguns militares, depois de percorrerem as ruas aclamando o Imperador e a Família Imperial, e exigindo a deposição do Gabinete, estabeleceram-se em frente ao Teatro Lírico, fazendo parar todos os coches da comitiva imperial, à procura do presidente do Conselho. O próprio carro do Imperador foi detido, e uns tenentes tomaram pelo freio os cavalos. D. Pedro II apareceu à portinhola, dominando o círculo ruidoso de manifestantes. Com voz clara e enérgica, mandou que o cocheiro fizesse partir o veículo:
- Não atendo a rogos de oficiais em plena rua!
Os militares se afastaram, e o carro prosseguiu.

Quando era ministro de Estrangeiros o senador Manuel Francisco Correia, D. Pedro II agraciou o grande estadista inglês Disraeli com a dignitária da Ordem da Rosa. Esse parlamentar recusou a graça imperial, por não ser assaz elevada, como requeria a sua posição na Inglaterra. Só a Grã-Cruz lhe poderia convir, por ter já muitas de outras nações, e externou em carta ao ministro o motivo da sua recusa.

O ministro viú-se em sérios embaraços para transmitir tão desagradável notícia ao Monarca. Adiou a comunicação por vários despachos, e por fim a fez, certo de que obteria para o lord inglês a Grã-Cruz da Ordem. Fludiu-se. O Imperador franziu a testa, e disse:
- Pois outra não lhe dou!


Depois de ouvir o concerto de um famoso pianista inglês na embaixada brasileira em Londres, por ocasião da viagem de D. Pedro II ao país, o Príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VII, manifestou ao embaixador, Barão de Penedo, o desejo de que o pianista fosse condecorado pelo Brasil com a Ordem da Rosa. O Imperador não tolerava nesse pianista a falta de higiene. Ao saber da proposta do Príncipe de Gales, comentou ironicamente:
- Concordo, desde que antes o governo inglês lhe conceda a Ordem do Banho...

Na sua primeira viagem à Europa, estava D. Pedro II em Rouen, cidade francesa então ocupada pelas tropas alemãs. Conhecedor da presença do Soberano, o general Treslov, comandante da guarnição alemã de ocupação, foi cumprimentá-Io, comunicando-lhe que mandaria colocar à porta do hotel uma guarda de honra, e ordenaria que a banda militar alemã desse um concerto em sua homenagem.

Agradecendo a intenção delicada do comandante, D. Pedro recusou a homenagem:

- Se eu estivesse na Alemanha, aceitaria. Estou na França, entretanto, e não devo permitir que a música dos vencedores venha saudar-me em chão dos vencidos.

O general prussiano inclinou-se, acatando com admiração e respeito o gesto de delicada sensibilidade. E o povo francês, sabedor da recusa imperial, demonstrou sempre para com Dom Pedro os mais vivos sentimentos de simpatia.


Visitando em Baden-Baden D. Pedro II exilado, Silveira Martins foi convidado por ele para um famoso concerto em praça pública, no qual se apresentavam os melhores maestros da Alemanha, e era assistido por todas as pessoas de importância. Quando a figura imponente do Imperador apareceu, todos se levantaram, como se uma mola os tivesse impelido ao mesmo tempo. O rege.nte da orquestra foi ao seu encontro e fez-lhe entrega do programa. Visivelmente comovido, o imperador exilado voltou-se para Silveira Martins e disse:

- Isto não é feito a mim, mas ao nosso Brasil.
- Como protesto eloqüentísssimo...


Revivendo o Brasil Império, Leopoldo Bibiano Xavier.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Imperador cria hábitos de seriedade nas instituições científicas

Um artista lírico, em visita ao País, escreveu:

O Imperador anima, com sua presença, todas as instituições que julga úteis para melhorar o País, e a modesta dotação que lhe é fixada no orçamento é absorvida por obras de caridade. Dom Pedra possui conhecimentos muito amplos. Preside ao Instituto Histórico e Geográfico todas as sextas-feiras, menos por pedantismo do que para estimular os trabalhos relativos ao Brasil.

Com inquebrantável pontualidade, o Imperador presidia a todas as sessões do Instituto Histórico, devotando-lhe o maior carinho. Como acentuou o diplomata e escritor Vicente Quesada, ele assim procedia para infundir, com o seu alto exemplo, hábitos de seriedade às instituições dessa ordem.

Em setembro de 1880, reunia-se no Rio o Primeiro Congresso Nacional de Medicina. Terminados os trabalhos, e desanimada de obter dos cofres públicos os necessários recursos para impressão dos anais, a comissão organizadora resolveu apelar para o Imperador, que respondeu:

- Como foi por falta de verba que o Governo mandou sustar a publicação dos trabalhos do congresso, não posso eu, primeiro guarda das leis do País, concorrer para fazerem-se despesas não decretadas. Amigo, porém, da ciência e dos progressos de minha terra, terei muito gosto em tomar a mim essa despesa.

No dia seguinte eram dadas as ordens para a impressão dos trabalhos do congresso.

O Dr. Antonio Ennes de Souza venceu um concurso para a cadeira de Mineralogia da Escola Politécnica, assistido pelo Imperador. Depois de nomeado, subiu ao Palácio da Boa Vista para agradecer, e resolveu esclarecer que tinha idéias republicanas. Ouviu este conselho:

- Senhor Ennes, deixe de política. Dedique-se à ciência. O senhor é moço, e tem um vasto campo diante de si.

Em Washington, D. Pedra II foi visitar o observatório. Dado o seu interesse por questões de Astronomia, examinou tudo cuidadosamente. De um modo geral, achou-o bem montado. Mas o regulador elétrico da hora, a que correspondiam quatro relógios da cidade, não lhe pareceu tão perfeito quanto o do observatório do Rio de Janeiro. Achou o cosmógrafo colocado sem a necessária estabilidade, e o relógio standard, para observações, mal colocado.

Mostraram-lhe depois o grande relógio, que registrava observações astronômicas por meio de eletricidade, e fora o primeiro do gênero. Estava parado, e ninguém sabia consertá-Ia. O astrônomo Newcomb, que acompanhava o Imperador, ficou assombrado quando viu D. Pedro passar uma mão por baixo do móvel e começar a examinar pacientemente a base que suportava o relógio. Feito isso, demonstrou-se admirado de que estivessem usando um aparelho desnivelado como aquele. Verificou-se depois que esse era o único defeito, que impedia o aparelho de funcionar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Livro Revivendo o Brasil Império

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Dom Pedro II e a gratidão nacional

Dom Pedro II e a gratidão nacional

Leopoldo Bibiano Xavier

Há 104 anos, no dia 5 de dezembro de 1891, falecia num modesto hotel de Paris o Imperador D. Pedro II. Exilado, em conseqüência do golpe militar que implantou a República, ele nunca deixou de amar o nosso País, que dirigira com sabedoria durante 49 anos. A tal ponto o amava, que desejou ser sepultado junto a um pouco de terra que daqui levara.
Em carta à Princesa Isabel, na ocasião, o Conde Afonso Celso declarou: "A história de D. Pedro II, ainda é cedo para tentar escrevê-la. Daqui a cem anos, assumirá proporções legendárias".
Nesses últimos cem anos, muito se fez para tentar apagar da memória histórica nacional a imagem do nosso Imperador: Atribuem a outros as grandes obras que realizou; têm como natural essa impressionante unidade nacional que ele consolidou; ignoram o progresso do nosso País durante o seu governo; passam uma esponja sobre quase todos os fatos bonitos de seu reinado. Para chancelar essa impressão negativa, apresentam sempre como um velhinho esse que envelheceu combatendo pela grandeza nacional.
Uma operação tão meticulosa não pode ser obra do acaso. Tudo indica que mão interesseiras orientaram a rota para o olvido, depois de ter-lhe imposto a rota do exílio. Porém a verdade histórica não pode ser encoberta indefinidamente, e hoje os historiadores sérios atribuem a D. Pedro II o título de "o maior dos brasileiros", confirmando o que ele mesmo enunciou em um soneto: "Sereno aguardarei, no meu jazigo, a justiça de Deus na voz da História".

O que fez esse homem, para merecer tal título?

Amigo leitor, você freqüentou escolas e colégios, como eu. E os conhecimentos que aí adquiriu, sobre a história do Império brasileiro, talvez não sejam muitos superiores aos que eu tinha antes de me dedicar ao assunto. Hoje, depois de pesquisar em mais de cem livros, devo declarar-me um irrestrito admirador do nosso grande monarca. Entre outras razões, porque o Brasil não existiria, se não tivesse havido um D. Pedro II.
Essa afirmação pode parecer absurda à primeira vista, mas corresponde à mais pura realidade. Em 1833, quando ele tinha apenas 8 anos de idade, e o governo era conduzido pela Regência, Auguste Saint-Hilaire escreveu: "Os destinos do Brasil repousam hoje sobre a cabeça de um menino, o único, entre os brasileiros, que une o presente ao passado. É uma criança que une ainda as províncias deste vasto Império, e somente a sua existência opõe uma barreira aos ambiciosos que surgem de todos os lados, de igual mediocridade e pretensões igualmente gigantescas. Os brasileiros não saberiam estabelecer no seu seio o sistema federal, sem começar por desfazer os fracos laços que os unem ainda".
Sem o Imperador, o Brasil teria sido esquartejado, como ocorreu à América espanhola, com suas repúblicas sem unidade, até a se guerrearem. Bastaria isso para imortalizar um soberano e o seu reinado.
Para que se entenda bem a obra de nosso Imperador, não basta afirmar que isto ou aquilo resultou da sua atuação. Muito mais, o espírito brasileiro deseja conhecer quem era esse homem, como ele agia, como tratava as pessoas, como era o seu dia-a-dia.
É exatamente o que eu pretendo mostrar a você, caro leitor, nos próximos artigos. Você encontrará um Imperador afável, bondoso, honesto, enérgico. Tudo isso ressaltado através de fatos. São centenas de fatos que escolhi em vários autores, narrados em linguagem simples e acessível. Você os lerá com prazer, quase como quem lê um romance.
Vamos iniciar com um episódio a propósito do extenso nome de batismo do Imperador, contado pelo famoso escritor francês Honoré de Balzac:
No dia em que D. Pedro I abdicou, e os brasileiros proclamaram D. Pedro II Imperador com a idade de 5 anos, o seu preceptor foi encontrá-lo em local distante alguns quilômetros do Rio de Janeiro. Anunciou-lhe solenemente que horas antes ele se transformara em Majestade, e o conduziu de volta ao Rio.
No caminho, começa a chover. Dom Pedro corre até o casebre mais próximo, e bate à porta com ansiedade, como faria qualquer monarca sem guarda-chuva. A voz trêmula de uma velhinha pergunta lá de dentro:
- Quem é?
Ofegante, devido à corrida, o Imperador estreante proclamou compassadamente, um a um, dos seus 15 nomes:
- Abra logo, vovó! Eu sou Pedro, João, Carlos, Leopoldo, Salvador, Bibiano, Francisco, Xavier, de Paula, Leocádio, Miguel, Gabriel, Rafael, Gonzaga de Alcântara.
- Minha Nossa Senhora! Como é que eu vou arranjar lugar aqui para tanta gente?!

Em simples artigo de jornal, como no casebre da bondosa velhinha, não há espaço para colocar tudo sobre o Imperador. Nos próximos artigos você encontrará fatos pitorescos, fatos interessantes, fatos grandiosos, fatos dramáticos. São apenas alguns exemplos, mas suficientes para você avaliar quando D. Pedro II merece a gratidão nacional.