domingo, 30 de dezembro de 2007

Em torno do Imperador, surge no País uma elite cultural e artística

As conveniências da cultura, das artes e das letras nos governos monárquicos, e o abastardamento do gosto atribuído aos regimes puramente democráticos, constituem um argumento em favor das monarquias e em desabono das repúblicas. Todos os reis conhecem isto. Sabe-se que em toda a parte e em todo o tempo os períodos mais brilhantes do desenvolvimento das letras condisseram com o maior esplendor dos tronos.133
A democracia não é literária, porque é a igualdade; e a inteligência, que ela pretende nivelar, é indispensavelmente aristocrática. Nada mais aristocrático do que o grande poeta da democracia, Victor Hugo. A literatura ou a arte democrática não existem. Sendo manifestações do que há de melhor e de superior na inteligência humana, são forçosamente aristocráticas. As ciências, as letras e as artes jamais florescerão nos estados sociais onde impera a democracia.75
Assis Chateaubriand comentou a respeito de D. Pedro II: “Mau grado o lamentável espetáculo de incapacidade da vida pública do Brasil, ele criou um ambiente de ordem política, que era, em larga parte, uma transposição e uma projeção da sua personalidade vigorosa. A obra mais interessante do Imperador consistiu na formação das elites no Brasil. Elites políticas, elites literárias, elites artísticas, ele se preocupava da criação de todas elas, e com uma sabedoria doce, insinuante e sagaz”.20
Aos 29 anos, acabara por criar no Brasil um verdadeiro mecenato, que atinge todos os ramos da atividade literária, artística e científica. Macedo, Alencar, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Varnhagen, entre outros, se encarregam de elevar o nível intelectual do País, estimulados pela atenção que o Soberano dedicava às coisas literárias. Pintores, músicos e escritores encontram apoio e auxílio que chegam por intermédio de viagens de estudos, de encomendas de obras, enfim, por todas as formas de que o Imperador podia dispor. Lendo todos os jornais da Capital e das províncias, tendo à sua disposição funcionários que assinalavam os artigos que podiam interessá-lo, não somente os que se referiam à política, mas também às artes e às letras, o Imperador deseja ter dinheiro apenas para fundar escolas, para a compra de livros, de objetos de arte, de quadros, ou para financiar aqueles que ele julgava dignos de apoio.91
O Imperador reunia freqüentes vezes, em sessões literárias e científicas, os homens de letras e os sábios brasileiros, para com eles examinar alguma nova produção ou discursar sobre literatura, ciências e artes. Eram as conferências conhecidas como 'palestras imperiais'.26,98
Na corte de Pedro II, Victor Hugo e Lamartine é que pareciam reinar. Seus livros, lidos e discutidos pela elite na língua original, haviam sido traduzidos e divulgados amplamente.
Uma certa douceur de vivre, na expressão de Talleyrand, parece estender-se sobre a sociedade brasileira, marcada pela personalidade do Imperador, cada vez mais integrado aos assuntos intelectuais. De hábitos simples, inimigo da ostentação, utiliza ainda a velha carruagem que pertenceu ao avô, D. João VI, para seus passeios habituais. Rodeia-se de gente erudita, sem distinção de cor ou de fortuna. Auxilia os artistas em suas realizações. Estimula, com dinheiro, os estudos de Pedro Américo, Gonçalves Dias e Carlos Gomes, na Europa.91
Ferdinand Wolf avaliou o interesse do Imperador pelas artes: “D. Pedro não se contenta em amar e proteger as ciências e as artes, de reunir em sua Corte sábios e artistas, de os favorecer. Não faz das ciências, das letras e das artes um pedestal de sua ambição. Ele as ama por elas mesmas, e conhece muitos dos seus ramos ele próprio”.91 Foi, talvez, o único que teve essa elevada e desinteressada preocupação pelas artes, letras e ciências.75

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