segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Dom Pedro II e a gratidão nacional

Dom Pedro II e a gratidão nacional

Leopoldo Bibiano Xavier

Há 104 anos, no dia 5 de dezembro de 1891, falecia num modesto hotel de Paris o Imperador D. Pedro II. Exilado, em conseqüência do golpe militar que implantou a República, ele nunca deixou de amar o nosso País, que dirigira com sabedoria durante 49 anos. A tal ponto o amava, que desejou ser sepultado junto a um pouco de terra que daqui levara.
Em carta à Princesa Isabel, na ocasião, o Conde Afonso Celso declarou: "A história de D. Pedro II, ainda é cedo para tentar escrevê-la. Daqui a cem anos, assumirá proporções legendárias".
Nesses últimos cem anos, muito se fez para tentar apagar da memória histórica nacional a imagem do nosso Imperador: Atribuem a outros as grandes obras que realizou; têm como natural essa impressionante unidade nacional que ele consolidou; ignoram o progresso do nosso País durante o seu governo; passam uma esponja sobre quase todos os fatos bonitos de seu reinado. Para chancelar essa impressão negativa, apresentam sempre como um velhinho esse que envelheceu combatendo pela grandeza nacional.
Uma operação tão meticulosa não pode ser obra do acaso. Tudo indica que mão interesseiras orientaram a rota para o olvido, depois de ter-lhe imposto a rota do exílio. Porém a verdade histórica não pode ser encoberta indefinidamente, e hoje os historiadores sérios atribuem a D. Pedro II o título de "o maior dos brasileiros", confirmando o que ele mesmo enunciou em um soneto: "Sereno aguardarei, no meu jazigo, a justiça de Deus na voz da História".

O que fez esse homem, para merecer tal título?

Amigo leitor, você freqüentou escolas e colégios, como eu. E os conhecimentos que aí adquiriu, sobre a história do Império brasileiro, talvez não sejam muitos superiores aos que eu tinha antes de me dedicar ao assunto. Hoje, depois de pesquisar em mais de cem livros, devo declarar-me um irrestrito admirador do nosso grande monarca. Entre outras razões, porque o Brasil não existiria, se não tivesse havido um D. Pedro II.
Essa afirmação pode parecer absurda à primeira vista, mas corresponde à mais pura realidade. Em 1833, quando ele tinha apenas 8 anos de idade, e o governo era conduzido pela Regência, Auguste Saint-Hilaire escreveu: "Os destinos do Brasil repousam hoje sobre a cabeça de um menino, o único, entre os brasileiros, que une o presente ao passado. É uma criança que une ainda as províncias deste vasto Império, e somente a sua existência opõe uma barreira aos ambiciosos que surgem de todos os lados, de igual mediocridade e pretensões igualmente gigantescas. Os brasileiros não saberiam estabelecer no seu seio o sistema federal, sem começar por desfazer os fracos laços que os unem ainda".
Sem o Imperador, o Brasil teria sido esquartejado, como ocorreu à América espanhola, com suas repúblicas sem unidade, até a se guerrearem. Bastaria isso para imortalizar um soberano e o seu reinado.
Para que se entenda bem a obra de nosso Imperador, não basta afirmar que isto ou aquilo resultou da sua atuação. Muito mais, o espírito brasileiro deseja conhecer quem era esse homem, como ele agia, como tratava as pessoas, como era o seu dia-a-dia.
É exatamente o que eu pretendo mostrar a você, caro leitor, nos próximos artigos. Você encontrará um Imperador afável, bondoso, honesto, enérgico. Tudo isso ressaltado através de fatos. São centenas de fatos que escolhi em vários autores, narrados em linguagem simples e acessível. Você os lerá com prazer, quase como quem lê um romance.
Vamos iniciar com um episódio a propósito do extenso nome de batismo do Imperador, contado pelo famoso escritor francês Honoré de Balzac:
No dia em que D. Pedro I abdicou, e os brasileiros proclamaram D. Pedro II Imperador com a idade de 5 anos, o seu preceptor foi encontrá-lo em local distante alguns quilômetros do Rio de Janeiro. Anunciou-lhe solenemente que horas antes ele se transformara em Majestade, e o conduziu de volta ao Rio.
No caminho, começa a chover. Dom Pedro corre até o casebre mais próximo, e bate à porta com ansiedade, como faria qualquer monarca sem guarda-chuva. A voz trêmula de uma velhinha pergunta lá de dentro:
- Quem é?
Ofegante, devido à corrida, o Imperador estreante proclamou compassadamente, um a um, dos seus 15 nomes:
- Abra logo, vovó! Eu sou Pedro, João, Carlos, Leopoldo, Salvador, Bibiano, Francisco, Xavier, de Paula, Leocádio, Miguel, Gabriel, Rafael, Gonzaga de Alcântara.
- Minha Nossa Senhora! Como é que eu vou arranjar lugar aqui para tanta gente?!

Em simples artigo de jornal, como no casebre da bondosa velhinha, não há espaço para colocar tudo sobre o Imperador. Nos próximos artigos você encontrará fatos pitorescos, fatos interessantes, fatos grandiosos, fatos dramáticos. São apenas alguns exemplos, mas suficientes para você avaliar quando D. Pedro II merece a gratidão nacional.

Um comentário:

Luisa Paiva Boléo disse...

Gosto sempre de ver como os brasileiros tratam com ternura os descendentes dos reis de Portugal que, bem ou mal, fizeram o o melhor para hoje o Brasil ser o que é e o que há-de ser.