quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Imperador garante e respeita a liberdade política

No Brasil, sob o regime mo­nárquico, havia muito mais liber­dade e muito maior tolerância política do que hoje, sob a forma republicana de governo. Éramos, na realidade, uma democracia. As eleições, tanto quanto o per­mitiam as nossas condições, eram revestidas de seriedade. Todos os partidos políticos fa­ziam-se representar no Parla­mento e revezavam-se constan­temente no poder.

D. Pedro II propôs uma refor­ma eleitoral, que ampliava o direi­to de voto, mas ela acabou enca­lhando na resistência insuperável das facções políticas. Só vinte anos mais tarde a eleição direta, primeira linha daquele programa, seria triunfante iniciativa do parti­do liberal. Tanto insistiu D. Pedro em que os ministros não divulgas­sem o seu nome associado à ideia da reforma, que estes aca­baram por só lhe atribuir o que perturbava a inteligente atividade do Governo, ocultando a inspiração superior e confidencial que os orientava.

Respondendo a Saraiva, o Im­perador afirmou:
- O senhor sabe, melhor que ninguém, que eu nunca fui embaraço à vontade da Nação, expressamente manifestada.
- Sei que o patriotismo de Vossa Majestade é tal que atende somente ao interesse da Nação, sem consultar a qualquer outra consideração.
- Agradeço a todos que pen­sam assim, porque me fazem jus­tiça.



Joaquim Nabuco escreveu:
Trata-se de um homem cuja voz, durante cinquenta anos, foi sempre, em Conselho de Ministros, a expressão da tolerância, da imparcialidade, do bem públi­co, contra as exigências implacá­veis e as necessidades às vezes imorais da política. Se chefes de partido disseram que com ele não se podia ser ministro duas vezes, foi porque ele os impediu de es­magar o adversário prostrado.


Durante algum tempo houve no Rio de Janeiro desordens provocadas por políticos, que se utilizavam de marginais e capoei­ras. Um dos grandes empresários da desordem organizada era o politiqueiro Duque Estrada. Com ambições de chefe eleitor, ar­rebanhou depois da guerra do Paraguai maltas de desordeiros, colocando-os a serviço de suas ambições. Conseguiu notáveis resultados, pelo terror que infun­dia.
Mas a certa altura os adversá­rios resolveram empregar contra ele o mesmo recurso. A poder de rasteiras, cocadas, rabos-de-ar­raia e navalhadas, derrotaram-no fragorosamente. Indignado, Du­que Estrada foi queixar-se ao Im­perador, que se limitou a lembrar-­lhe o preceito:
- Não faças a outrem o que não queres que te façam.
E em seguida voltou-lhe as costas.

Não pertencendo a partidos, o Monarca é Imperador de todos os brasileiros

Um dos maiores serviços que o Rei presta ao povo é a garantia da sua total independência em relação aos partidos políticos, e dum modo geral em relação aos interesses particulares das pes­soas ou das associações, sejam de que tipo for: políticas, eco­nômicas, profissionais.


Em 1886, ao visitar as obras do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o Imperador mandou a carruagem seguir pelo caminho histórico. Chegando ao local, co­mentou:
- Esta é a verdadeira arqui­tetura adequada a um monumen­to desta ordem.
E perguntou ao Conselheiro Ramalho:
- Ainda vive alguém do tem­po da Independência?
- Há em Campinas um ve­lho, chamado João Cintra, que fez parte da comitiva do augusto pai de Vossa Majestade.
Dias depois, quando chegou a Campinas, foi logo indagando onde morava o velho Cintra, cuja casa era fora da cidade. E seguiu para lá, acompanhado apenas de um jornalista e do seu velho negro Rafael. Encontrou João Cintra fa­lando a meia voz, num grupo de velhos. Depois dos cumprimen­tos, perguntou:
- Que história estava aí contando? Continue, eu também quero ouvir. Quem é velho sem­pre sabe muitas histórias.
Não sabendo o que lhe have­ria de dizer, o rude velhinho per­guntou a Sua Majestade:
- Por que é que o Senhor não se muda para cá? Será por ser carioca?
- Eu não sei o que é ser carioca, paulista, gaúcho, mineiro ou pernambucano. Só sei que sou brasileiro.


No dia 10 de julho de 1888, os brasileiros residentes em Paris promoveram um banquete para comemorar a abolição da escra­vidão. Compareceram 169 perso­nalidades do mundo oficial. Os organizadores desejavam convencer o Imperador, presente então na França, a presidir o ban­quete. Coerente com a sua situa­ção de Imperador de uma maioria de abolicionistas, mas também da minoria não abolicionista, ele se recusou:
- Desejo continuar Impera­dor de todos os brasileiros, quaisquer que sejam os credos e convicções políticas.

Numa carta dirigida a D. Pedro II, Lamartine escreveu:
Todos os súditos de Vossa Majestade, que vêm do Brasil ou que daí nos escrevem, felicitam­-se de viver sob o governo de um príncipe que extinguiu no Novo Mundo, por seu caráter e suas virtudes, a eterna disputa entre as naturezas do governo republica­no ou monárquico: a liberdade das repúblicas sem a instabili­dade, e a perpetuidade das mo­narquias sem o despotismo.


Tivemos 67 anos de Monar­quia que, além de nos trazer a Independência, trouxe a este País crescimento industrial e co­mercial, estabilidade política e ideológica, liberdade total, hones­tidade, probidade com as coisas públicas e identidade pátria, além de governos livres e indepen­dentes, sistema monetário forte, estruturas institucionais fortes e morais, estrutura partidária de grande potência e uma política exterior digna.