quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Se a Monarquia voltar, não lhe faltarão adesões

No Instituto Histórico, lembraram que era urgente nomear a comissão que coligisse os dados para a grande biografia do Imperador, pois brevemente se completariam 50 anos de reinado. D. Pedro se surpreendeu:

-- Biografia?! Não pensem nisso. Aliás, é simplicíssima. No alto de uma folha de papel, escrevam a data do meu nascimento e o dia em que subi ao trono. No fim, a data em que vier a falecer. Deixem todo o intervalo em branco, para o que ditar o futuro. Ele que conte o que fiz, as intenções que sempre me dominaram e as cruéis injustiças que tive de suportar em silêncio, sem poder jamais defender-me.62,83,95,127

Conversavam em Paris, após o golpe de 15 de novembro, o Imperador e Goffredo d'Escragnolle Taunay, sobre a situação do País. Taunay disse:

-- Nesta ocasião, mais do que nunca, a presença de Vossa Majestade no Brasil seria de incalculável vantagem para todos. Com a experiência dos negócios que tem Vossa Majestade, com o seu inesgotável saber, o seu conhecimento profundo dos homens e das coisas da Terra de Santa Cruz, com a sua clara visão das necessidades do País, poderia Vossa Majestade, se lá estivesse, evitar ou, quando menos, atenuar calamidades sem nome.

-- Se me chamarem, irei logo, sem a menor hesitação. Creio, de fato, que poderia ser útil. Governar um grande país como o nosso é difícil, muito difícil mesmo.50



Em visita a D. Pedro II exilado, o Conde Afonso Celso perguntou:

-- Vossa Majestade não desejaria voltar, para restaurar no Brasil o regime da justiça e da liberdade?

-- Quanto a voltar, se me chamarem, estou pronto. Seguirei no mesmo instante, e contentíssimo, visto ser útil ainda à nossa terra. Mas se me chamarem espontaneamente, notem. Puseram-me para fora... Tornarei, se se convencerem de que me cumpre voltar. Conspirar, jamais! Não se coaduna com a minha índole, o meu caráter, os meus antecedentes. Seria a negação da minha vida inteira. Nem autorizo ninguém a conspirar em meu nome ou no dos meus. Se desejarem de novo a minha experiência e a minha dedicação à testa da administração, que o digam claramente e sem constrangimento. Obedecerei sem vacilar, à custa embora de árduos sacrifícios. Do contrário, não e não!66,110,136

Alguém se referiu, diante do Imperador exilado, às numerosas adesões que o governo republicano recebia de antigos e zelosos monarquistas, e repetiu, a propósito, a frase de Carlos de Laet: “Estendeu-se sobre o País um enorme emplastro adesivo”. Com voz branda, D. Pedro II observou:

-- Isso que ora se dá em nossa Pátria, sempre se deu e se há de dar em todos os séculos e em todas as nações. Que sol nascente deixou jamais de produzir calor e movimento? Deve-se julgar os homens pelo que eles são realmente, e não pelo que desejamos ou sonhamos que sejam. Feliz a consciência onde a recordação de todos os atos de um simples dia, calmo e normal, não projetar alguma sombra de dúvida! O novo regime surgiu revestido de aparato, apoiado na força pública, rico de recursos que lhe deixamos, fértil em esperanças e valiosas promessas. O modo inopinado como a mudança se efetuou feriu as imaginações, atribuindo-lhe foros de maravilhoso. Daí o magnetismo que ele exerce, perfeitamente explicável. Lamentemos apenas a ilusão em que se acham, e meditemos sobre a contingência das situações humanas. Virá em seguida o arrependimento. Se a Monarquia voltar, de adesões não há de sentir falta, e igualmente espontâneas, com idêntico entusiasmo e verdade.

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