No Brasil, sob o regime monárquico, havia muito mais liberdade e muito maior tolerância política do que hoje, sob a forma republicana de governo. Éramos, na realidade, uma democracia. As eleições, tanto quanto o permitiam as nossas condições, eram revestidas de seriedade. Todos os partidos políticos faziam-se representar no Parlamento e revezavam-se constantemente no poder.
D. Pedro II propôs uma reforma eleitoral, que ampliava o direito de voto, mas ela acabou encalhando na resistência insuperável das facções políticas. Só vinte anos mais tarde a eleição direta, primeira linha daquele programa, seria triunfante iniciativa do partido liberal. Tanto insistiu D. Pedro em que os ministros não divulgassem o seu nome associado à ideia da reforma, que estes acabaram por só lhe atribuir o que perturbava a inteligente atividade do Governo, ocultando a inspiração superior e confidencial que os orientava.
Respondendo a Saraiva, o Imperador afirmou:
- O senhor sabe, melhor que ninguém, que eu nunca fui embaraço à vontade da Nação, expressamente manifestada.
- Sei que o patriotismo de Vossa Majestade é tal que atende somente ao interesse da Nação, sem consultar a qualquer outra consideração.
- Agradeço a todos que pensam assim, porque me fazem justiça.
Joaquim Nabuco escreveu:
Trata-se de um homem cuja voz, durante cinquenta anos, foi sempre, em Conselho de Ministros, a expressão da tolerância, da imparcialidade, do bem público, contra as exigências implacáveis e as necessidades às vezes imorais da política. Se chefes de partido disseram que com ele não se podia ser ministro duas vezes, foi porque ele os impediu de esmagar o adversário prostrado.
Durante algum tempo houve no Rio de Janeiro desordens provocadas por políticos, que se utilizavam de marginais e capoeiras. Um dos grandes empresários da desordem organizada era o politiqueiro Duque Estrada. Com ambições de chefe eleitor, arrebanhou depois da guerra do Paraguai maltas de desordeiros, colocando-os a serviço de suas ambições. Conseguiu notáveis resultados, pelo terror que infundia.
Mas a certa altura os adversários resolveram empregar contra ele o mesmo recurso. A poder de rasteiras, cocadas, rabos-de-arraia e navalhadas, derrotaram-no fragorosamente. Indignado, Duque Estrada foi queixar-se ao Imperador, que se limitou a lembrar-lhe o preceito:
- Não faças a outrem o que não queres que te façam.
E em seguida voltou-lhe as costas.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Não pertencendo a partidos, o Monarca é Imperador de todos os brasileiros
Um dos maiores serviços que o Rei presta ao povo é a garantia da sua total independência em relação aos partidos políticos, e dum modo geral em relação aos interesses particulares das pessoas ou das associações, sejam de que tipo for: políticas, econômicas, profissionais.
Em 1886, ao visitar as obras do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o Imperador mandou a carruagem seguir pelo caminho histórico. Chegando ao local, comentou:
- Esta é a verdadeira arquitetura adequada a um monumento desta ordem.
E perguntou ao Conselheiro Ramalho:
- Ainda vive alguém do tempo da Independência?
- Há em Campinas um velho, chamado João Cintra, que fez parte da comitiva do augusto pai de Vossa Majestade.
Dias depois, quando chegou a Campinas, foi logo indagando onde morava o velho Cintra, cuja casa era fora da cidade. E seguiu para lá, acompanhado apenas de um jornalista e do seu velho negro Rafael. Encontrou João Cintra falando a meia voz, num grupo de velhos. Depois dos cumprimentos, perguntou:
- Que história estava aí contando? Continue, eu também quero ouvir. Quem é velho sempre sabe muitas histórias.
Não sabendo o que lhe haveria de dizer, o rude velhinho perguntou a Sua Majestade:
- Por que é que o Senhor não se muda para cá? Será por ser carioca?
- Eu não sei o que é ser carioca, paulista, gaúcho, mineiro ou pernambucano. Só sei que sou brasileiro.
No dia 10 de julho de 1888, os brasileiros residentes em Paris promoveram um banquete para comemorar a abolição da escravidão. Compareceram 169 personalidades do mundo oficial. Os organizadores desejavam convencer o Imperador, presente então na França, a presidir o banquete. Coerente com a sua situação de Imperador de uma maioria de abolicionistas, mas também da minoria não abolicionista, ele se recusou:
- Desejo continuar Imperador de todos os brasileiros, quaisquer que sejam os credos e convicções políticas.
Numa carta dirigida a D. Pedro II, Lamartine escreveu:
Todos os súditos de Vossa Majestade, que vêm do Brasil ou que daí nos escrevem, felicitam-se de viver sob o governo de um príncipe que extinguiu no Novo Mundo, por seu caráter e suas virtudes, a eterna disputa entre as naturezas do governo republicano ou monárquico: a liberdade das repúblicas sem a instabilidade, e a perpetuidade das monarquias sem o despotismo.
Tivemos 67 anos de Monarquia que, além de nos trazer a Independência, trouxe a este País crescimento industrial e comercial, estabilidade política e ideológica, liberdade total, honestidade, probidade com as coisas públicas e identidade pátria, além de governos livres e independentes, sistema monetário forte, estruturas institucionais fortes e morais, estrutura partidária de grande potência e uma política exterior digna.
Em 1886, ao visitar as obras do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o Imperador mandou a carruagem seguir pelo caminho histórico. Chegando ao local, comentou:
- Esta é a verdadeira arquitetura adequada a um monumento desta ordem.
E perguntou ao Conselheiro Ramalho:
- Ainda vive alguém do tempo da Independência?
- Há em Campinas um velho, chamado João Cintra, que fez parte da comitiva do augusto pai de Vossa Majestade.
Dias depois, quando chegou a Campinas, foi logo indagando onde morava o velho Cintra, cuja casa era fora da cidade. E seguiu para lá, acompanhado apenas de um jornalista e do seu velho negro Rafael. Encontrou João Cintra falando a meia voz, num grupo de velhos. Depois dos cumprimentos, perguntou:
- Que história estava aí contando? Continue, eu também quero ouvir. Quem é velho sempre sabe muitas histórias.
Não sabendo o que lhe haveria de dizer, o rude velhinho perguntou a Sua Majestade:
- Por que é que o Senhor não se muda para cá? Será por ser carioca?
- Eu não sei o que é ser carioca, paulista, gaúcho, mineiro ou pernambucano. Só sei que sou brasileiro.
No dia 10 de julho de 1888, os brasileiros residentes em Paris promoveram um banquete para comemorar a abolição da escravidão. Compareceram 169 personalidades do mundo oficial. Os organizadores desejavam convencer o Imperador, presente então na França, a presidir o banquete. Coerente com a sua situação de Imperador de uma maioria de abolicionistas, mas também da minoria não abolicionista, ele se recusou:
- Desejo continuar Imperador de todos os brasileiros, quaisquer que sejam os credos e convicções políticas.
Numa carta dirigida a D. Pedro II, Lamartine escreveu:
Todos os súditos de Vossa Majestade, que vêm do Brasil ou que daí nos escrevem, felicitam-se de viver sob o governo de um príncipe que extinguiu no Novo Mundo, por seu caráter e suas virtudes, a eterna disputa entre as naturezas do governo republicano ou monárquico: a liberdade das repúblicas sem a instabilidade, e a perpetuidade das monarquias sem o despotismo.
Tivemos 67 anos de Monarquia que, além de nos trazer a Independência, trouxe a este País crescimento industrial e comercial, estabilidade política e ideológica, liberdade total, honestidade, probidade com as coisas públicas e identidade pátria, além de governos livres e independentes, sistema monetário forte, estruturas institucionais fortes e morais, estrutura partidária de grande potência e uma política exterior digna.
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